ANEXO A
Participação de Sociedade Civil nos Seminários preparatórios visando
o Plano Nacional de Implementação (NIP) referente ao Projeto PDF-B
patrocinado pelo Global Environment Facility (GEF) e executado pelo
Governo Brasileiro
Plano Nacional de Implementação da Convenção de Estocolmo -
NIP-POPs-Brasil
No caso brasileiro em função da complexidade envolvida o GEF - Global
Environmental Facility concedeu ao País um financiamento para um
projeto preparatório denominado Project Development Facility - ID 2096,
Status PDF-B, destinado ao levantamento das necessidades nacionais para
a elaboração da proposta de projeto do NIP. No Brasil o NIP-POPs é
coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, que diferentemente da
proposta original optou por realizar 3 seminários nacionais divididos
em 1) Agrotóxicos; 2) Dioxinas e Furanos e; 3) PCBs.
Seminário sobre Agrotóxicos
Nos dias 15 e 16 de agosto de 2005, foi realizado o Seminário sobre
Agrotóxicos: aldrin, clordano, DDT, dieldrin, endrin, heptacloro, mirex
e toxafeno. O Ministério do Meio Ambiente retirou o hexaclorobenzeno (HCB)
da discussão alegando que o assunto seria discutido nas fontes não
intencionais. A ACPO encaminhou documento anexo solicitando reconsideração,
alegando que o HCB devia constar tanto na discussão das fontes não
intencionais quanto intencionais, pois apesar do HCB não ter sido
utilizado na agricultura brasileira, ele está presente em vários casos
de contaminação ambiental no Brasil, como exemplo, o Caso Rhodia na
Baixada Santista, Estado de São Paulo. Várias populações foram
expostas e contaminadas, sendo que neste caso, o HCB inclusive foi usado
equivocadamente como adubo e agrotóxico, portanto se deveria discutir a
questão do HCB nos dois momentos, ou seja, como agrotóxicos e como
emissão não intencional. Por ocasião do seminário, porém, a discussão
permeou principalmente a questão de busca e destruição de estoques
obsoletos; áreas contaminadas; custos de destruição e combate ao
contrabando.
Seminário Dioxinas e Furanos
Nos dias 6 e 7 de fevereiro de 2006, foi realizado o Seminário sobre
dioxinas e furanos. As reuniões foram precedidas de painéis que
abordaram a questão das dioxinas e furanos, e foram bastante críticas
com posições fortes dos setores presentes, porém os órgãos
estaduais de meio ambiente e a indústria não estavam preparados
naquele momento para darem uma contribuição efetiva para o NIP-POPs de
forma coerente e eficaz. Durante o Seminário foram criados 3 grupos de
trabalho: G1 - que tratou da questão do inventário das fontes
principais; G2 - tratou da capacitação e infra-estrutura e G3 - das
medidas para redução e eliminação.
As ONGs participaram com duas pessoas do Grupo 3, que tinham como tema
"Medidas de Redução e Eliminação" e três linhas de
discussões: a) Processos de Produção não intencional; b) Capacitação
para informação e níveis de informação e; c) Alternativas tecnológicas.
O Grupo estava assim representado e distribuído: 50% Indústria; 36%
Governo; 14% ONGs. Naquele momento o setor da indústria e dos órgãos
ambientais estaduais não trouxeram propostas concretas tangíveis.
Inclusive, os órgãos ambientais estaduais, apoiados pela indústria, não
permitiram que as propostas das ONGs fossem internalizadas, apesar de
ser o único setor que apresentou propostas efetivas para controle e
redução e eliminação de emissão de dioxinas e furanos em fontes
fixas.
Os órgãos ambientais estaduais (OEMAS) propuseram remeter toda a
discussão para uma política Nacional de Governo. Durante as discussões,
respondendo a indagação das ONGs, as OEMAS declararam que continuariam
a licenciar empreendimentos que emitem POPs. Os representantes da indústria,
ao serem indagados quanto às suas propostas de redução e eliminação
de POPs, alegaram que estavam envolvidos em várias outras atividades e
assuntos mais urgentes, e que não tiveram tempo para construir suas
propostas. Além disso, informaram ao Grupo de Trabalho que eles não têm
clareza quanto ao seu papel no plano de implementação da Convenção
de Estocolmo.
Durante as discussões do grupo, os representantes da Sociedade Civil
Organizada (ONGs), buscando ser mais efetivos durante o processo,
apresentaram no final um conjunto de propostas objetivas, porém os
representantes das OEMAS e INDÚSTRIAS tentaram objetá-las, chegando o
representante do Órgão Ambiental de São Paulo a propor que as
propostas das ONGs fossem votadas. Os representantes das ONGs tiveram
então que lembrar a todos que o grupo não tinha esta característica
de ser deliberativo, e que o objetivo do seminário era o de levantar
todas as propostas sem censura, e que estas deveriam ser apresentadas ao
Ministério do Meio Ambiente para sua avaliação. Com o clima desfavorável
para o diálogo franco e aberto, decidiu-se então que todas as
propostas fossem remetidas para plenária..
O encaminhamento ficou assim definido: a) Propostas lidas e não votadas
seriam encaminhadas para discussão na plenária; b) A organização do
Evento (MMA) abriu para que todos possam enviar propostas mesmo sem
discussão nos GTs. Os representantes das ONGs alegaram que desta forma
o processo perderia sua transparência, pois não seriam discutidas as
propostas dos outros setores que chegassem posteriormente. Para
apaziguar o desentendimento entre os setores, a Organização do Evento
se comprometeu a encaminhar para todos os participantes as propostas
posteriores para serem submetidas a críticas.
A consolidação do documento final não foi realizada pela Organização
do Evento até o momento.
Segue abaixo o documento entregue pelas ONGs, representadas pela ACPO -
Associação de Combate aos POPs (São Paulo); ADRVDT-CPA - Associação
em Defesa de Reclamantes e Vitimados por Doenças do Trabalho na Cadeia
Produtiva do Alumínio
(Pará) e APROMAC - Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte (Paraná).
- Adoção do conceito "bolha" como medida de redução de
POPs em processos de novos licenciamentos de fontes de emissão.
(Taxa de substituição de 1:1, x. Findado o inventário de emissões de dioxinas de fontes fixas, será necessário a aplicação do conceito bolha, ou seja, para uma nova fonte de POPs ser licenciada será necessário a retirada da mesma quantidade mais uma taxa de redução de fontes existentes).
- Ações concretas para recuperação de áreas contaminadas
(identificação das áreas novas, planos de descontaminação e
cronograma de execução; para as antigas áreas, auditoria do que foi
realizado até o momento).
- Criação da Comissão Nacional de Implementação da Convenção de
Estocolmo para avaliação e tomada de decisões imediatas e de longo
prazo com composição paritária de 50% da sociedade civil. (A
sociedade é o segmento mais vulnerável às conseqüências da
contaminação por POPs. Além disso, ela compreende uma ampla gama de
grupos que tem saberes específicos sobre suas realidades e problemas, e
enorme potencial para contribuição de soluções, e se divide em ONGs
ambientalistas, movimentos feministas, associações de trabalhadores e
de comunidades atingidas, e outros movimentos sociais em geral).
- Criação de rede nacional de comissões estaduais com a mesma
configuração da Comissão Nacional para implementação mais eficiente
da Convenção de Estocolmo. (Na impossibilidade da instituição de
comissões estaduais, é necessário que exista um ponto focal em cada
estado independente das estruturas existentes para promover e fiscalizar
o Plano de Implementação em nível estadual, com autonomia política e
subordinada à Comissão Nacional de Implementação da Convenção de
Estocolmo).
- Criação de mecanismos financeiros para promoção de cursos de
capacitação de ONGs visando a implementação do NIP, a serem
organizados pelas ONGs. (Visando o cumprimento da Convenção de
Estocolmo no tocante à participação da sociedade civil, são necessárias
ações eficazes de capacitação de lideranças sociais e de apoio técnico
local).
? Financiamento para estudos dos impactos sociais da contaminação por
POPs a serem feitos pelas ONGs. (As ONGs devem participar da organização
e supervisão desse tipo de estudos para garantir que os resultados
sejam obtidos através de metodologias aceitáveis pela sociedade, possível
somente com garantia do controle social).
- Projetos de informação para o Poder Judiciário das obrigações
assumidas pelo Brasil na Convenção de Estocolmo. (Além da Convenção
já ser um marco legal, e também considerando a necessidade da revisão
da legislação brasileira e suas possíveis adaptações da lei e suas
implicações processuais à luz da Convenção de Estocolmo, torna-se
necessário um programa ou projeto como o proposto acima).
- Projetos de informação e de integração da Previdência Social com
as questões da Convenção de Estocolmo (É necessário que a Previdência
Social reconheça os acidentes de contaminação, seja por exposição
crônica ou aguda, e tome as devidas providências de mitigação e não
exposição a novas substâncias químicas como recomendam as indicações
médicas).
- Criação, através da Comissão Nacional, de uma linha de interlocução
com os outros Ministérios, para tratar da prevenção e mitigação dos
impactos sociais decorrentes da contaminação por POPs. (É necessário
que os ministérios, como por exemplo da Educação, Saúde, Trabalho,
Cultura, Previdência Social e outros afins sejam convidados a
apresentar a sua contribuição necessária no processo de implementação
da Convenção).
- Financiamento para estudos ambientais, epidemiológicos, toxicológicos
das comunidades impactadas das indústrias cimenteiras que processam resíduos
perigosos, incineradores e outras fontes listadas no Anexo C da Convenção.
(As comunidades vulneráveis, à luz da Convenção, têm o direito de
saber sobre os impactos a que estão expostos).
- Seminário Internacional para discussão de alternativas tecnológicas
para Tratamento de POPs de Não-Combustão e Mínimo Risco. (A sociedade
civil organizada nacional e internacional condena o uso de tecnologias
de combustão para tratamento de POPs).
- Seminários Estaduais para criar estratégias de diálogo permanente
entre a sociedade civil organizada, comunidades impactadas e demais
movimentos sociais com as agências ambientais e municipais.
- Garantia da participação efetiva das ONGs ambientalistas nos
processos de Comunicação de Risco para a Sociedade Brasileira.
- Revisão das exigências no licenciamento de fontes de emissão de
POPs quanto às exigências da Convenção de Estocolmo e o Princípio
da Precaução.
- Adequação da legislação ambiental (EIAs/RIMAs).
- Renovação dos licenciamentos em vigor à luz da Convenção de
Estocolmo.
- Turnos de trabalho de fiscalização por parte dos órgãos ambientais
cobrindo 24 horas para acompanhar todo o processo de eliminação e
controle de emissões de POPs.
- Criação de um sistema padronizado de monitoramento e acompanhamento
de destruição de estoques obsoletos de materiais contendo dioxinas e
furanos, como também de sistema padronizado de monitoramento de emissão.
- Instalação de um laboratório 100% público para detecção de
dioxinas e furanos (em cada região do país no mínimo).
- Prever no NIP verba específica para viabilizar a atuação das OEMAs
e das ONGs ambientalistas no cumprimento das estratégias aqui
propostas.
Seminário sobre PCBs
Nos dias 6 e 7 de fevereiro de 2006, foi realizado o Seminário sobre
PCBs, após os painéis previstos os participantes foram divididos em três
grupos de trabalhos: G1 - com o tema Estoques de PCBs no Brasil devendo
discutir sobre: Metodologia - PCBs em uso e como resíduo - Equipamentos
elétricos contendo originalmente PCBs - Inventariar equipamentos elétricos,
áreas e instalações contaminadas com PCBs - Outras fontes de PCBs;
Grupo 2 - Redução dos Riscos e Eliminação de PCBs devendo discutir
sobre: Medidas para redução - Destinação e Eliminação - Avaliação
de Riscos à Saúde - Divulgação e Comunicação e; Grupo 3 - sobre as
adequações necessárias. Reduzida a pressão dos dias anteriores
durante a discussão de fontes não intencionais, as ONGs puderam
trabalhar com mais tranqüilidade, apresentando propostas e emendas em
conjunto com os outros setores.
O grupo G1, além de realizar um histórico sobre os problemas
relacionados com PCBs, apresentou as seguintes recomendações:
- Instituição de Grupo de Trabalho para preparar, acompanhar e
consolidar as informações do inventário para garantir a interpretação
correta;
- Preparação de mecanismo de coleta de informações como um formulário
on-line, primeiramente inserido no Cadastro Técnico Federal com uma
estratégia de obrigatoriedade de preenchimento informando a existência
ou não de equipamento PCB, englobando na 1ª etapa as atividades
potencialmente poluidoras;
- Em uma 2ª etapa seriam incluídas as outras atividades que utilizam
equipamentos a PCBs como por exemplo: bancos, hospitais, shopping
centers etc;
O grupo G2, apresentou várias recomendações, porém destacamos apenas
algumas:
- Avaliar as tecnologias existentes para a eliminação de POPs,
embasando a tomada de decisões, com ampla participação da sociedade.
- Melhorar a fiscalização do procedimento de estocagem, visando à
elaboração de um plano de eliminação dos estoques pelas empresas,
considerando 2025, como data limite.
- Realizar avaliações ambientais periódicas em matrizes diversas com
objetivo de identificar possíveis fontes, passivos e populações
atingidas.
- Realizar avaliações toxicológicas periódicas e estudos epidemiológicos
com objetivo de avaliar os níveis de contaminação da população.
- Incluir a avaliação de PCBs (POPs) em exames ocupacionais, em
empresas.
- Criação de um plano de redução de risco. (reduzir probabilidade de
exposição);
- Realizar um Seminário (Nacional/Internacional) de Alternativas para a
Eliminação de POPs.
- Integração e divulgação das avaliações ambientais, epidemiológicas
e ocupacionais.
- Necessidade de capacitação e treinamento de técnicos, gestores públicos,
representantes da sociedade civil, lideranças comunitárias, assim como
outros atores envolvidos, nas áreas de: · Educação Ambiental
voltada aos POPs. · Identificação, prevenção e tratamento de
contaminação humana por POPs. · Na solicitação de avaliações
ambientais, ocupacionais e na agricultura. · Na análise dos dados
gerados, pela implementação da Convenção. · Na tipificação
de fontes e impactos.
- Plano Nacional de divulgação e comunicação da Convenção de
Estocolmo, envolvendo profissionais da área de comunicação.
O grupo G3, também apresentou várias constatações e recomendações,
das quais destacaremos algumas:
- Existem instrumentos legais em nível federal e estadual, porém sem
relação entre si.
- Em nível federal: existem regulamentações que, contudo, são
incompletas.
- É necessário o envolvimento de todas as áreas correlatas do governo
federal (MS, MTE, MMA etc.).
- É necessário o estabelecimento de valores nacionais de referência
para contaminação de instalações, equipamentos e materiais de uso
industrial e comercial.
- Determinar o estabelecimento de critérios e padrões para avaliação
da contaminação dos diversos substratos ambientais.
- Regulamentar aspectos de saúde ocupacional
- Buscar a melhor forma de destinação final
- Executar e acompanhar os planos de eliminação de PCBs, estabelecendo
como condicionantes das renovações das Licenças de operação das
empresas que possuem PCBs em operação, estoque ou como passivos.
- Propor um calendário, com metas intermediárias, compatível com as
provisões da convenção de Estocolmo para eliminação das PCBs.
- Estimular o desenvolvimento de tecnologias de não combustão para
destinação final de PCBs, e a desenvolvimento tecnológico do setor.
- Criar um grupo permanente de acompanhamento da aplicação da legislação,
visando, inclusive, ações padronizadas nos Estados e Municípios no
cumprimento da lei.
- Garantir na legislação o direito de saber e o direito de recusa,
principalmente nas áreas de influências.
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ACPO
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