O Perigo Químico

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Mas afinal… o que são POPs?


A revolução industrial verificada no século passado produziu profundas mudanças no processo de produção, poucas décadas foi suficiente para experimentarmos a introdução maciça de novos produtos e materiais o que, por conseguinte alterou expressivamente o hábito de consumo da população.
Paralelamente ao avanço industrial, uma parcela da humanidade experimentou grande salto sanitarista que resolveu vários problemas de ordem de saúde pública principalmente gerada pela falta de saneamento. Porém o conceito de urbanização através de um planejamento estratégico, foi vencido pressão econômica que aliado a forte especulação imobiliária deu lugar a explosão imobiliária e ocupação desordenada sem dar conta do pesado ônus que viria sustentar.

A rápida conurbação aliada à introdução de novas substâncias químicas tóxicas, cujo manuseio e banalizado, começa a pressionar os ganhos de saúde publica trazido pelos sanitaristas. As substâncias químicas trazem consigo um novo problema para humanidade, a poluição química contamina os compartimentos ambientais causando impactos negativos aos ecossistemas, esta mesma poluição contamina e intoxicam a fauna e a flora de forma direta e indireta os seres humanos.

Dentro deste cenário – a principio, a indústria química indiscutivelmente adquiriu papel de extrema relevância, uma vez que as substâncias sintéticas tornaram-se insumos presentes na maioria dos bens de consumos, produzidos e manipulados em escala cada vez maior, fruto das demandas de uma sociedade que pressionada pela mídia adota como modelo o consumismo, regra básica do desperdício.

Segundo o UNITAR – United Nations Institute for Training and Research (Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa) existem mais de 750.000 substâncias conhecidas, de origem natural ou resultado da atividade humana, sendo que 70.000 são cotidianamente utilizadas pelo homem. Em 1990 a produção de substâncias químicas atingiu a casa de 400 milhões de toneladas por ano e a projeção da OECD – Organisation for Economic Co-operation and Development (Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento) indica que para o ano 2020 é de que a produção seja 85 % maior que a do ano de 1995

Substâncias químicas que em milhões de anos a natureza não conseguiu produzir através de seus fenômenos, começaram a ser criadas em laboratórios de grandes corporações industriais e difundidas em nosso meio ambiente e em nossos próprios lares, atingindo nossa água, nosso ar, nosso solo, nossos alimentos, nossos remédios, nossas peças de vestuário, objetos de uso pessoal e infelizmente até mesmo nossos próprios organismos, como hoje sabemos de forma preocupante e mesmo enigmática.

Dentre estas substâncias que o invento humano introduziu no universo terrestre e no cotidiano dos seres vivos, talvez não encontremos nenhum outro gênero capaz de suscitar tamanha preocupação, polêmica e discussão como aquelas derivadas da adição do cloro aos derivados de petróleo, convencionalmente chamadas de organoclorados e mais recentemente de poluentes orgânicos persistentes – POPs.

A falta de uma visão mais crítica e responsável por parte desta sociedade de consumo exacerbado e por vezes inconseqüente, fez com que o número destas substâncias se multiplicasse através dos anos e as quantidades produzidas nos pólos industriais atingissem valores inimagináveis até então.

A comodidade e a falsa percepção de prosperidade deram lugar, com o passar do tempo, à constatação da contaminação em escala cada vez maior de nosso habitat, com o comprometimento de nossos recursos naturais, e paralelamente gerando quantidades imensas de resíduos industriais perigosos indesejáveis para os quais ainda hoje se buscam soluções eficazes e seguras de destruição. Nem mesmo nossos descendentes conseguem hoje escapar desta mácula, pois pesquisas indicam a presença de poluentes no cordão umbilical de crianças recém nascidas em praticamente todas as partes do planeta.

No limiar desta consciência a respeito do risco representado por estas substâncias alienígenas criadas em laboratório, o mundo clamava já na década de 70 por uma mudança nos padrões de produção e consumo da Humanidade, em especial nos debates verificados em Estocolmo no ano de 1972 durante a I Conferência Mundial sobre o Ambiente Humano, patrocinada pela Organização das Nações Unidas – ONU.

Numa recente época marcada pelo totalitarismo, o Governo brasileiro comete um dos maiores equívocos, o de atrair empresas e tecnologias já duramente criticadas e cerceadas no Primeiro Mundo para atuarem no Brasil, com todos os incentivos, inclusive a desobrigações de caráter ambiental. Hoje os trabalhadores, Pais de Família, vêm morrendo, vítimas dos agentes químicos sintéticos tóxicos. Anos de silêncio, tornaram todos, cúmplices na formação de um grande caso de saúde pública. Após décadas de contaminação, os homens colhem hoje os frutos desse silêncio. Os frutos de uma terra degradada, os frutos da ignorância alimentada pela propaganda, na mão do capital sem pátria.

 


Mas afinal… o que são POPs?

Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) são substâncias sintéticas pertencentes a vários grupos químicos. Os hidrocarbonetos aromáticos podem tornar-se mais estáveis quando um ou mais átomos de hidrogênio é substituído por um átomo da família dos halogênios (flúor, cloro, bromo ou iodo). A produção da soda cáustica obriga a uma paralela produção em larga escala do cloro (Cl2) um subproduto industrial de pouco valor comercial, direcionado para a síntese de diversos agentes tóxicos, tais como os agrotóxicos organoclorados, biocidas, solventes, plásticos (PVC), etc. Por esta razão, os POPs mais perigosos, em função também de sua grande disponibilidade, são os derivados da família dos ORGANOCLORADOS, que contém em sua molécula pelo menos uma átomo de carbono e outro de cloro acompanhados ou não de átomos de hidrogênio e oxigênio.

O que caracteriza uma substância como POPs é a PERSISTÊNCIA (1) no ambiente durante longos períodos; a BIOACUMULAÇÃO (2) nos tecidos gordurosos dos seres vivos; a TOXICIDADE (3) aguda e crônica mesmo em baixas concentrações; e TRANSPORTE (4), ou seja a capacidade de percorrer longas distâncias, até milhares de quilômetros de sua fonte de origem. Entre outras anomalias à saúde humana, pode causar problemas no sistema imunológico, cardiovascular, endócrino, gastrintestinal, respiratório, reprodutivo e finalmente o câncer. E coloca em risco real a reprodução dos seres humanos e dos animais, devido sua característica de causar interferências hormonais durante a gestação levando a malformações estruturais nos fetos.

Para efeito da Convenção de Estocolmo sobre POPs:

(1) Persistência: evidência de que a meia-vida da substância química na água é superior a dois meses, ou que sua meia-vida no solo é superior a seis meses, ou que sua meia-vida em sedimento é superior a seis meses; ou evidência de que a substância química seja suficientemente persistente para justificar o seu tratamento no âmbito da presente Convenção;

(2) Bioacumulação: evidência de que o fator de bioconcentração ou fator de bioacumulação da substância química em espécies aquáticas seja superior a 5.000 ou, na ausência de tais dados, que o log Kow seja maior que 5; evidência de que a substância química apresente outras razões de preocupação, tal como elevada bioacumulação em outras espécies, elevada toxicidade ou ecotoxicidade; ou os dados de monitoramento em biota indicar que o potencial de bioacumulação da substância química seja suficiente para justificar o tratamento da mesma no âmbito da presente Convenção;

(3) Toxicidade: evidência de efeitos adversos à saúde humana ou ao meio ambiente que justifique o tratamento da substância química no âmbito da presente Convenção; ou os dados de toxicidade ou de ecotoxicidade que indiquem potencial para danos à saúde humana ou ao meio ambiente.

(4) Transporte: níveis medidos da substância química em locais distantes das fontes de liberação que sejam motivos de preocupação; dados de monitoramento mostrando que o transporte ambiental de longo alcance da substância química, com potencial para se transferir a um meio receptor, pode ter ocorrido pelo ar, água ou espécie migratória; ou propriedades do destino no meio ambiente e/ou resultados de modelo que demonstrem que a substância química tem um potencial para ser transportada a longas distâncias pelo ar, água ou espécie migratórias, com o potencial para se transferir a um meio receptor em local distante das fontes de sua liberação. Para uma substância química que migre significativamente pelo ar, sua meia-vida no ar deve ser superior a dois dias.

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