Corpo de Delito

OS EFEITOS DOS ORGANOCLORADOS

NA SAÚDE HUMANA

Adaptação de "Body of Evidence: the Effects of Chlorine on Human Health", de Michelle Allsopp, Pat Costner e Paul Johnston

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Abril de 1996


Sumário .


 

Blue.gif (104 bytes) Introdução

Proibição Internacional: A Única Alternativa
Os Efeitos Tóxicos dos Organoclorados
Efeitos na Vida Selvagem
Exposição Humana a Organoclorados

Blue.gif (104 bytes) Os Efeitos na Reprodução ..

Efeitos na Reprodução Masculina
Efeitos na Reprodução Feminina

Blue.gif (104 bytes) Efeitos em Fetos e Crianças

Óbito Fetal
Baixo Peso no Nascimento
Alterações de Comportamento e Redução da Inteligência
Danos ao Sistema Imunológico

Blue.gif (104 bytes) Organoclorados e Câncer  ...

Seveso: A Evidência
O Câncer de Mama

Blue.gif (104 bytes) Proibição Total de Organoclorados

Blue.gif (104 bytes) Notas Bibliográficas


TABELAS:

L_yellow.gif (104 bytes) 1 - Usos do Cloro no Mundo
L_yellow.gif (104 bytes) 2 - Herança na Vida Selvagem
L_yellow.gif (104 bytes) 3 - Leite Materno ....
L_yellow.gif (104 bytes) 4 - Organoclorados e Câncer
L_yellow.gif (104 bytes)    - Lista de Substâncias Químicas (algumas)
L_yellow.gif (104 bytes)    - Maiores Produtores e Usuários Mundiais do Cloro


SÍNTESES:

L_yellow.gif (104 bytes)     - A Química do Cloro e a Formação de Organoclorados
L_yellow.gif (104 bytes)     - Alteração da Função Endócrina

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ESTE MATERIAL NA FORMA DE CARTILHA, FOI IMPRESSO EM PAPEL TOTALMENTE ISENTO DE CLORO

Foto da Capa: criança contaminada por organoclorados em Cubatão (SP) - foto: Greenpeace/Seul

Tradução: Marijane Lisboa

Revisão Técnica: Joya Emilie de Menezes Correia e Nádia Haiama

Edição: Paulo Adário

Programação Visual: Andréa Continentino e Paulo Felício


 

INTRODUÇÃO

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Em 1962, no livro "Primavera Silenciosa" (Silent Spring), Rachel Carson lançou a primeira advertência sobre os perigos dos organoclorados. O alerta de Carson era claro: presentes em pesticidas, solventes, plásticos e outros produtos químicos, os organoclorados (toxinas resultante da combinação de cloro e matéria orgânica) poderiam contaminar os organismos de todos os homens, mulheres, crianças e animais do planeta, assim como o ar, lagos, oceanos, peixes que aí vivem e as aves que deles se alimentam.

Hoje, já está suficientemente documentado o papel dos organoclorados na dizimação de populações inteiras de aves, focas e outros animais, na infertilidade, na feminilização dos machos e no déficit de desenvolvimento dos órgãos sexuais.

Evidências científicas crescentes indicam que os organoclorados podem estar prejudicando o funcionamento interno do organismo humano - ao alterar os níveis hormonais, provocar defeitos congênitos e infertilidade, comprometer as funções mentais de crianças, causar câncer e diminuir a resistência a enfermidades por deprimir o sistema imunológico.

Como os sintomas clínicos da exposição a estas substâncias químicas podem tardar a se manifestar nos seres humanos, só agora se evidenciam as implicações em larga escala para a saúde, antecipadas por Rachel Carson. A partir do momento em que a geração dos anos 50 e 60, exposta no útero materno a essas substâncias, atingiu a idade reprodutiva, as evidências começaram a se impor.

Algumas substâncias cloradas permanecem intactas no meio ambiente por décadas e mesmo séculos. Organoclorados persistentes são partes da dieta diária de todos nós. Essas toxinas podem ser encontradas no sangue humano, no leite materno, nos músculos e no tecido adiposo de pessoas em todas as partes do globo. Acumulando-se nos tecidos através dos tempos, elas se somam às cargas corporais de substâncias perigosas que ameaçam a vida.

Recentemente, por exemplo, pesquisas comprovaram que as pessoas expostas a dioxinas durante o acidente industrial na cidade italiana de Seveso, em 1976, são mais propensas a certos tipos de câncer1. Um estudo holandês, de 1994, contatou 200 bebês, cujas mães tinham altos níveis de dioxinas no leite e no cordão umbilical, apresentaram uma variedade de disfunções em seus músculos, reflexos e tireóide2.

Este relatório é mais do que um alerta: pretende contribuir para o debate sobre o assunto no Brasil e funcionar como instrumento de apoio à luta do Greenpeace e outras instituições pela proibição total, em escala mundial, da produção de organoclorados. Se permitirmos que se continue a produzir poluentes químicos capazes de interferir em funções tão básicas da vida humana, estaremos pondo em risco os alicerces biológico da nossa própria espécie.

Proibição Internacional: A Única Alternativa

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Organoclorados persistentes estão circulando pelo meio ambiente de todo o planeta, das profundezas do leito marinho à estratosfera, do Pólo Norte ao Pólo Sul.

Os organoclorados persistentes mais voláteis - como os clorofluorcarbonos (CFCs) e alguns solventes - ascendem à atmosfera, reduzindo a camada de ozônio. Os menos voláteis permanecem na atmosfera por algum tempo e finalmente se depositam na superfície da Terra. Alguns desses últimos, próximo ao local de onde se originaram; outros circulam pelo globo, levados por correntes de ar, depositando-se por fim, em leitos de rios, lagos, mares, vegetação e solo. Uma vez retidos na superfície do planeta, quantidade significativa desses organoclorados ingressa na cadeia alimentar.

Os organoclorados se depositam em maior escala nas regiões frias. Esse fenômeno, conhecido como destilação global, é a causa das inesperadas concentrações elevadas de organoclorados no ar, na água do mar, nos plânctons, nos animais selvagens e na população da região ártica.

Estabelecer restrições às emissões de alguns tipos de organoclorados a níveis "aceitáveis" seria uma medida inócua, que não contribuiria em nada para eliminar os organoclorados que já estão circulando pelo planeta. O máximo que se poderia alcançar seria estabilizar os níveis de organoclorados persistentes já presentes no meio ambiente. Isso de pouco adiantaria, pois os organoclorados são tóxicos em quaisquer níveis e capazes de se acumular nos tecidos dos organismos vivos.

Além disso, as restrições só poderiam ser aplicadas aos 11.000 organoclorados registrados como produtos comerciais. Eles representam, porém, uma pequena fração do número total de organoclorados criados acidentalmente, como subproduto das atividades industriais. Muitos desses subprodutos ainda sequer foram identificados.

A única forma de obter uma proteção efetiva é através de uma medida preventiva global: um acordo internacional, com a força de lei, para banir a produção dos organoclorados.

O Equilíbrio da Natureza

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Entre os principais argumentos contrários a uma proibição para os organoclorados, está o de que a própria Natureza produz substâncias químicas similares a estes organo-halogênios. A maioria é encontrada em algas marinhas, bactérias fungos, enquanto algumas poucas são produzidas por plantas, animais e por fenômenos naturais.

A maioria dos organoclorados naturais é produzida em pequenas quantidades.Um exceção notável é o organoclorado mais simples, o clorometano. Produzido por algas marinhas, supõe-se que ele desempenhe um papel regulador da camada de ozônio.

Somente alguns dos organoclorados produzidos por organismos vivos são persistentes. Acredita-se também que as erupções vulcânicas produzam pequenas quantidades de alguns organoclorados persistentes (até há pouco se pensava que os incêndios florestais fossem uma fonte significativa de dioxinas, um grupo de organoclorados persistentes, mas esta teoria foi refutada).

A existência, na Natureza, de compostos químicos similares aos organoclorados serve mais como um argumento favorável do que como argumento contrário à sua proibição. Como ainda se conhece muito pouco a respeito das funções desempenhadas pelos organo-halogênios produzidos naturalmente, é impossível predizer o impacto real dos organoclorados sintéticos no delicado equilíbrio do nosso ecossistema. Devido a essa incerteza, é inaceitável que se continue despejando no meio ambiente tais quantidades de organoclorados sintéticos.

Os Efeitos Tóxicos dos Organoclorados

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Os compostos organoclorados produzem uma ampla gama de efeitos tóxicos em animais e seres humanos, inclusive nos sistemas reprodutivo, nervoso e imunológico, além de causarem câncer.

Muitos desses efeitos ocorrem porque certos organoclorados são capazes de mimetizar ou bloquear determinados hormônios, particularmente hormônios sexuais. Além disso, alguns organoclorados afetam enzimas que controlam as reações bioquímicas no organismo. Há organoclorados que também afetam os neurotrasmissores, substâncias químicas do sistema nervoso, assim como as células do sistema imunológico.

Certos organoclorados, como os PCBs (policloreto de bifenilas) e as dioxinas, podem se ligar a proteínas específicas nas células, causando hepatoxidade, neurotoxidade, imunotoxidade, alteração do metabolismo lipídico e dos níveis de hormônios da tireóide, além de modificação da tolerância à glicose e perda de peso durante o desenvolvimento do feto.


TABELA1


USOS DO CLORO NO MUNDO . TABELA 1

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Os maiores produtores de cloro no mundo são as grandes multinacionais químicas - como a Bayer, a Dow Chemical, a Hoechst, a ICI, a Solvay, a Akzo, a Norsk Hydro, a Occidental, a OLIN e a PPG.


SETOR

% TOTAL


Gás cloro 15

Celulose e papel 10
Esgotos 4
Água potável 1

Plásticos 50

PVC 34
Poliuretano 11
Resinas epoxi 2
Neoprene 1
Outros plásticos 2

Compostos orgânicos 20

Solventes 9
Refrigerantes 2
Pesticidas 2
Produtos farmacêuticos 0,5
Detergentes 0,5
Outros químicos 6

Compostos inorgânicos 15

Ácido clorídrico 6
Hipocloritos 4
Dióxido de titânio 2
Outros inorgânicos 3

Fonte: Indústria e Comércio


Contaminantes no útero

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Quando mulheres grávidas ou lactantes são expostas a organoclorados persistentes, seus filhos ficam igualmente expostos. Esses poluentes passam através da placenta para o feto em desenvolvimento, assim como passam para o recém-nascido através do leite materno. Durante as etapas iniciais de desenvolvimento da vida, quando os órgãos do corpo estão se formando e crescendo, a suscetibilidade aos efeitos dos compostos tóxicos é evidentemente maior 3.

Os fetos em desenvolvimento carecem de gordura corporal para armazenar os organoclorados que, circulam diretamente nos órgãos em desenvolvimento. E como o sistema imunológico dos fetos ainda não se formou inteiramente, sua defesa contra essas substâncias tóxicas é bastante limitada.

Efeitos na Vida Selvagem

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Em várias partes do mundo, organoclorados persistentes têm sido responsabilizados pelo declínio de populações da fauna selvagem. As evidências sugerem que os seres humanos não são menos vulneráveis a essas substâncias.

No caso de animais, relacionou-se os organoclorados persistentes com o aumento do número de deformidades e morte de embriões, a feminilização de machos, o déficit de desenvolvimento dos órgãos sexuais, a infertibilidade e o comportamento anormal no cuidado com as crias.

Exemplos de espécies vítimas do envenenamento por organoclorados são as aves que se alimentam de peixes nos Grandes Lagos (EUA/Canadá), as baleias belugas no estuário de St. Lawrence (Canadá) - que estão ameaçadas de extinção - as focas do Mar Báltico, o falcão peregrino da Grã Bretanha e a lontra marinha européia.

Em certas regiões já se obteve a proibição de alguns organoclorados específicos. Foi o caso do DDT nos EUA, após a descoberta de que este pesticida ocasionava afinamento da casca dos ovos de aves, ameaçadas de extinção, na região dos Grandes Lagos. Apesar da proibição, a vida selvagem não se recuperou inteiramente da contaminação.

Desde então, observou-se o crescimento populacional de algumas espécies, como o cormorão de crista dupla (ave norte-americana) e a gaivota argêntea. Populações de outras espécies, contudo, como a andorinha-do-mar comum, continuam a diminuir - provavelmente porque os efeitos observados nestas aves e em outras espécies da fauna selvagem sejam causados por vários poluentes persistentes interagindo conjuntamente, e não só pelo DDT.

Como se indica na tabela 2, os organoclorados têm sido associados ao declínio de várias espécies selvagens. Em alguns casos, esse efeito foi atribuído diretamente a organoclorados específicos - como DDT ou PCBs. Mas como esses estudos não investigaram todos os poluentes organoclorados presentes, também é possível que o fenômeno seja causado por uma complexa mistura de organoclorados persistentes.

TABELA2


HERANÇA NA VIDA SELVAGEM . Tabela 2

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Efeitos documentados de vários organoclorados na vida selvagem


Animal

Localização

Efeito


Truta lacustre Grandes Lagos Morte embrionária

Crocodilo Flórida

Anomalias sexuais em indivíduos jovens, dificultando a reprodução. Por exemplo, estrutura anormal dos ovários em fêmeas e testículos anormais e pênis pequenos em machos


Falcão peregrino Grã-Bretanha

Afinamento da casca dos ovos


Foca comum Mar Wadden

Dificuldade de implantação embrionária


Foca anelada Mar Báltico

Dificuldade na reprodução, lesões ósseas e hiperplasia adrenal


Leão Marinho Califórnia

Abortos

Baleia beluga Estuário de Saint Lawrence (Canadá)

Lesões mamárias e baixo índice de gravidez


Pantera Flórida

Defeitos reprodutivos de desenvolvimento, baixo número e anomalia de espermatozóides, crescente incidência de criptorquidia (não descimento dos testículos em crias machos)


Fonte M. Allsopp

 

Exposição Humana a Organoclorados

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Os organoclorados persistentes fazem parte da dieta diária de quase todos os indivíduos do nosso planeta. Em qualquer parte do globo, esta toxinas podem ser detectadas no sangue humano, no leite materno, nos músculos e no tecido adiposo.

Mais de 90% desses organoclorados persistentes ingressam em nossos organismos através da alimentação. A carne, o peixe e os laticínios apresentam os níveis mais altos de concentração de organoclorados persistentes, porque esses compostos químicos tendem a se armazenar nas gorduras, acumulando-se através da cadeia alimentar. As frutas e vegetais fumigados com pesticidas podem conter altos níveis de organoclorados.

Organoclorados também têm sido identificados na água e nos esgotos tratados com cloro, dióxido de cloro ou outros agentes oxidantes clorados. Quase todas as pessoas ingerem água clorada (o cloro é um meio barato na desinfecção desse líquido). Os compostos orgânicos encontrados em fontes de água natural, particularmente na superfície da água, reagem com o cloro. São então produzidos alguns organoclorados tóxicos e provavelmente carcinogênicos. O pesquisador C. Rappe detectou a presença de dibenzofuranos, um organoclorado extremamente tóxico, na água tratada com compostos clorados4.

TABELA3


LEITE MATERNO . Tabela 3

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Concentração de organoclodos no leite materno em diferentes partes do mundo


Composto Químico Concentração
média (ppm)
Concentração máxima (ppm) Localização

Dieldrin .0,05 1,78
1,00
Austrália
Iraque

Heptacloro e seu epóxido 0,05 2,50
0,48
Espanha
Itália

Clordano 0,08 >2,00 México e Iraque

DDT total 1,00 >100,00 Guatemala

HCB 0,10 7,0 Grécia

Beta-HCH 1,00 6,50 Chile

Gama-HCH (lindano) 0,05 0,89 Itália

PCB total 1,00 3,60 Camadá (Baia de Hudson)

2,3,7,8-TCDD (dioxina) 0,000002 0,00145 Vietnã (década de 70)

ppm = partes por milhão     /    Adaptado de Thomas e Colbom, 1992

 

Exposições prolongadas a doses relativamente baixas de toxinas persistentes podem resultar em uma acumulação significativa destas em seres humanos.
Esse é o caso do povo inuit (também conhecido como esquimó), na região ártica de Quebec, no Canadá, que têm nos peixes e nos mamíferos marinhos ítens importantes de sua dieta alimentar. Os níveis de dioxina e PCBs no leite materno das mulheres inuit são 3,5 vezes maiores do que os encontrados entre as demais mulheres que vivem em Quebec.

A ocorrência de organoclorados persistentes em tecidos humanos pode ser um indicador dos padrões regionais de industrialização e consumo, particularmente de pesticidas.

* Os níveis de DDT no leite materno e nos tecidos humanos são maiores em países com economia agrícola, onde este pesticida ainda é produzido e usado, do que em países industrializados, que restringiram ou proibiram o seu uso.

* A população de países mais industrializados apresenta níveis mais altos de compostos químicos manufaturados, como PCBs e dioxinas, do que populações de países menos industrializados.

* Em países mais industrializados, a proibição de determinados organoclorados como o DDT, o hexaclorobenzeno (HCB) e o Dieldrin em resultado em um declínio gradual dos níveis destas substâncias no meio ambiente. Em alguns casos, porém, esse declínio parece ser mais lento, apresentando concentrações que podem refletir a circulação total dessas substâncias em todo o planeta.

SÍNTESE1


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A Química do Cloro e a Formação de Organoclorados

    A química do cloro começa com o sal comum, o cloreto de sódio, uma substância estável e natural que circula constantemente pelos ecossistemas e em nossos organismos. A indústria química cria o gás cloro ao passar a eletricidade através da água salgada, rompendo o sal e, através disso, alterando fundamentalmente a característica do cloro.
    Diferentemente do cloro no sal, o gás cloro é uma substância extremamente reativa e venenosa, que raramente aparece na Natureza. Ela é capaz de se ligar rapidamente com matéria orgânica, formando uma nova classe de compostos chamados de organoclorados.
    A maior parte do gás cloro se combina com produtos petroquímicos para formar organoclorados tais como plásticos (especialmente o cloreto de polivinila - PVC), pesticidas, solventes e outros produtos químicos. Cerca de 15% do gás cloro são utilizados fora da indústria química, principalmente como branqueador de papel. Na desinfecção da água potável se utiliza apenas um por cento do gás cloro produzido.
    Atualmente, a indústria produz cerca de 11.000 organoclorados distintos, utilizados numa ampla gama de produtos, desde pesticidas e plásticos até pastas de dentes e soluções para higiene bucal. Além disso, sua produção e uso geram milhares de outros organoclorados não desejados. A fabricação de PVC, por exemplo, gera dioxinas - um dos mais nocivos grupos de organoclorados.

 


OS EFEITOS NA REPRODUÇÃO

 

Efeitos na Reprodução Masculina

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Nos últimos 30 a 50 anos, as alterações no órgãos reprodutivos masculinos têm sido mais frequentes e a infertilidade masculina parece estar aumentando 5.

Essas tendências podem ser atribuídas a diversas causas, como doenças sexualmente transmissíveis e consumo excessivo de álcool e tabaco. Porém, é difícil explicar essas tendências mundiais a partir de hábitos que diferem tanto de cultura para cultura.

Atualmente, há uma crescente evidência científica de que o aumento de alterações no sistema reprodutor masculino pode estar relacionado com a exposição a substâncias químicas, muitas das quais organocloradas e capazes de causar distúrbios endócrinos 6.

Nos últimos 50 anos:

* O número de espermatozóides em homens declinou consideravelmente. Dois estudos recentes, na Europa, mostram que a contagem de espermatozóides caiu a uma taxa de 2% ao ano, nos últimos 20 anos. Também decaiu a qualidade dos espermatozóides, que apresentam declínio da motilidade, assim como proporção maior de anomalias 7.
* A incidência de câncer testicular tem aumentado em escala mundial. Entre os anos 40 e 80, na Dinamarca, a incidência desse câncer aumentou de 3 a 4 vezes 7.
* Na Grã-Bretanha, dobraram os casos de criptorquidia (testículos que não descem para a bolsa escrotal), desde os anos 50 8.
* As anomalias uretrais têm aumentado na Grã Bretanha, Suécia, Noruega, Dinamarca e Hungria 8.

Doenças no Homem Adulto

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Embora os maiores impactos dos organoclorados sobre o sistema reprodutivo masculino ocorram durante a fase de desenvolvimento, algumas pesquisas demonstram que os níveis de testosterona (hormônio sexual masculino), assim como o número de espermatozóides em adultos, têm diminuido como consequência da exposição a organoclorados persistentes.

Segundo estudo realizado na Índia, um grupo de homens que trabalhava com pesticidas organoclorados, como o DDT, apresentava diminuição da fertilidade quando comparado a um grupo menos exposto. Registrou-se também um aumento significativo em fetos natimortos, mortalidade neo-natal e defeitos congênitos em crianças nascidas desses homens 9.

A exposição ocupacional ao pesticida dibromocloropropano (DBCP) produziu muitos casos de infertilidade masculina. Os pesquisadores Whorton e Foliart descobriram que os homens que fabricavam ou aplicavam DBCP tinham um número baixo de espermatozóides, o qual variava proporcionalmente ao tempo em que tais homens haviam estado expostos ao pesticida 10.

Estudos recentes também indicaram que a exposição ocupacional a dioxinas reduz o nível do hormônio sexual masculino, a testosterona. Durante a Guerra do Vietnã, os soldados que empregavam o Agente Laranja, contaminado com dioxinas, apresentaram diminuição do tamanho dos testículos 11.

Na população em geral, uma prolongada exposição em pequenas doses pode igualmente afetar a fertilidade masculina. Em Israel, pesquisas com homens que apresentavam problemas inexplicáveis de fertilidade constataram a presença de altas concentrações do pesticida DDT no sangue, assim como de lindano, um composto químico usado para tratar de madeiras 12.

Efeitos na Reprodução Feminina

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Nos últimos 50 anos, as mulheres de países industrializados têm apresentado crescentes problemas reprodutivos. Esses problemas podem ser devidos à exposição pré-natal ou à exposição adulta a compostos químicos, os quais modificam o sistema endócrino, como é o caso de alguns organoclorados persistentes 13,14.

* As meninas estão atingindo a puberdade mais cedo.
* A incidência de endometriose está aumentando e ocorrendo em idade mais precoce.
* É também crescente a incidência de algumas formas de câncer do aparelho reprodutor, como o câncer de vagina, de cervix do útero e de mama.

Menstruação: cada vez mais cedo

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A idade da primeira menstruação (menarca) é pré-determinada durante estágios iniciais do desenvolvimento. Experiências em roedores mostraram que alto níveis de estrógeno durante a gestação ou antes da puberdade aceleram o processo de maturação do hipotálamo, causando instalação precoce do primeiro estro (equivalente à menarca nos humanos). Nestes últimos 200 anos, a idade da instalação da menarca diminuiu de uma média de 17 anos para uma média de 12,8 anos 15.

Por outro lado, sabe-se que os períodos em que a idade da instalação da menarca declinou foram acompanhados por uma diminuição de gravidez múltipla (gêmeos) nos mesmos grupos de mulheres sob observação. Enquanto essa diminuição costuma indicar queda na fecundidade e provável exposição tóxica, o declínio da idade da instalação da menarca normalmente sinaliza melhoria na nutrição e na saúde pública. Portanto, ambos os efeitos - gravidez múltipla e declínio da idade da instalação da menarca - não poderiam ser explicados por uma melhoria na alimentação. Por isso uma hipótese é a de que esses fenômenos sejam causados por um aumento da exposição ao estrógeno. Esse aumento se deveria ao contato crescente dos seres humanos com estrógenos químicos no meio ambiente 14.

Endometriose

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A endometriose consiste em células da mucosa uterina crescendo fora do útero, geralmente nos ovários, bexiga, intestinos e na parede pélvica. Essa enfermidade causa infertilidade e dores crônicas. Nos Estados Unidos, chega a afetar uma mulher em cada dez em idade reprodutiva 16.

Estudos em macacos rhesus demonstraram que a exposição a dioxinas ou PCBs aumenta o risco de desenvolvimento da endometriose. Observou-se que o aparecimento dessa enfermidade pode ocorrer mesmo com doses de dioxinas 7 a 8 vezes menores do que aquelas consideradas "seguras", na classificação atual da Organização Mundial da Saúde 16,17.

SÍNTESE2


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Alteração da Função Endócrina

    Alguns organoclorados podem causar danos mimetizando ou bloqueando hormônios esteróides que controlam o crescimento e o sexo, em particular o estrógeno (hormônio sexual feminino) e a testosterona (hormônio sexual masculino).
    Para que o estrógeno produza seus efeitos no organismo, da mesma forma que outros hormônios, necessita se ligar a determinadas proteínas celulares, chamadas "receptores". O encaixe do receptor e do hormônio é intrincado e extremamente preciso.
    Essa ligação entre a célula receptora e o hormônio provoca uma resposta fisiológica no organismo. Alguns organoclorados se ligam a receptores celulares de estrógeno, provocando processos inadequados ou bloqueando os processos normais no organismo.
    O estrógeno é essencial para o desenvolvimento normal dos órgãos reprodutivos femininos e masculinos durante a vida fetal, tanto nos seres humanos quanto nos animais. Por isso, não é supreendente que organoclorados que mimetizem ou bloqueiem o estrógeno possam causar efeitos devastadores no desenvolvimento do sistema reprodutivo do feto. Os efeitos na prole são permanentes e irreversíveis.
    O estrógeno e outros hormônios esteróides também são fundamentais no desenvolvimento e crescimento normais do cérebro, tireóide, fígado, rins, esqueleto e sistema imunológico.
    Em adultos, os hormônios são essenciais na regulação de vários processo biológicos. Portanto, adultos também são afetados pela exposição a organoclorados. Mas os fetos e recém-nascidos são evidentemente os grupos que correm o maior risco quando expostos a organoclorados. Esses também podem causar danos ao interferir em outras proteínas complexas, como as enzimas e neurotransmissores.

 


EFEITOS EM FETOS E CRIANÇAS

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Os jovens em fase de desenvolvimento são particularmente sensíveis à exposição aos organoclorados. A exposição pré-natal a organoclorados persistentes, além de poder prejudicar o sistema reprodutivo durante a fase de desenvolvimento, pode causar uma série de outros efeitos adversos para a saúde.

A exposição aos organoclorados durante a gravidez pode provocar:

* óbito fetal e aborto espontâneo;
* diminuição de peso e tamanho ao nascimento;
* alterações de comportamento e rebaixamento da inteligência;
* depressão do sistema imunológico;
* redução da resistência óssea;
* efeitos na reprodução

Óbito Fetal

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A exposição de mulheres grávidas a certos organoclorados pode provocar óbito fetal ou abortos espontâneos. Mulheres que tenham trabalhado com solventes ou com pesticidas organoclorados correm riscos maiores.

Estudos mostram que as mulheres que foram expostas a altas concentrações do solvente percloroetileno em lavanderias a seco são três e meia vezes mais propensas a abortos espontâneos do que as não expostas 18.

Homens que trabalharam com alguns organoclorados, como pesticidas, podem ter anomalias nos espermatozóides, que resultem em abortos espontâneos 9.

Baixo Peso no Nascimento

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A exposição pré-natal aos PCBs reduz o peso dos recém-nascidos, como evidenciaram experimentos com animais e dados epidemiológicos em seres humanos.

Foi o que ocorreu, por exemplo, com os recém-nascidos de mulheres que haviam ingerido quantidades moderadas de peixe contaminado do Lago de Michigan: eles apresentaram baixo peso ao nascimento, diâmetro craniano menor e nasceram mais prematuramente do que os bebês de mulheres não expostas. As crianças de mãe expostas aos PCBs também apresentaram, aos quatro anos, estatura menor do que a média 19,20.

Um estudo recente na Holanda investigou a exposição e os efeitos das dioxinas e PCBs em 200 recém-nascidos saudáveis, que nasceram sem quaisquer complicações. A estimativa da exposição dos recém-nascidos foi feita medindo-se as concentrações de dioxinas e PCBs presentes no leite de suas mães e no cordão umbilical. Os mais expostos apresentavam menor habilidade de usar seus músculos, uma maior incidência de disfunções da glândula tireóide e reflexos menos desenvolvidos, entre os dez primeiros dias e os três meses de idade. A constatação preocupou os cientistas, que acompanharão o desenvolvimento dessas crianças ao longo de toda a sua infância, para verificar se os efeitos encontrados são permanentes 21,22.

Alterações de Comportamento e Rebaixamento da Inteligência

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Evidências crescentes sugerem que a exposição pré-natal a organoclorados pode ter um efeito permanente no comportamento e inteligência.

É o caso, por exemplo, dos moradores de Yucheng, em Taiwan, que foram acidentalmente expostos a PCBs e dioxinas, ao comer arroz contaminado. Doze anos após o acidente, crianças que haviam sido contaminadas no útero apresentavam alterações de comportamento e rebaixamento da inteligência 23,24,25.

Na região do Lago Michigan, observou-se que os filhos de mulheres que ingeriram quantidades moderadas de peixe contaminado com PCBs sofriam diminuição da memória recente e apresentavam evidências de uma função mental mais lenta do que a normal 26.

Danos no Sistema Imunológico

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Muitos organoclorados são tóxicos para o sistema imunológico. Como se sabe, danos no sistema imunológico podem resultar no aumento de doenças infecciosas, alguns tipos de câncer e doenças autoimunes.

Em Times Beach, Missouri (EUA), constatou-se que as crianças entre 9 e 14 anos de idade, cujas mães foram expostas a dioxinas durante a gravidez, tinham anomalias nas células do sistema imunológico. Resultados semelhantes foram encontrados em estudos com animais 27.

As mulheres inuit, cuja dieta consiste basicamente em peixe e mamíferos marinhos, têm altos níveis de PCBs e dioxinas no seu leite materno. Estudo recente mostrou que existe uma correlação entre a contaminação do leite materno e uma incidência maior do que a normal de infecções do ouvido nos bebês inuit 28.

 


ORGANOCLORADOS E CÂNCER

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Estima-se que aproximadamente metade dos cânceres na Europa e 8 entre cada 10 cânceres nos Estados Unidos são causados por fatores relacionados ao meio ambiente ou a hábitos de vida 29.

Pesquisas com comunidades expostas e trabalhadores industriais têm sugerido uma correlação entre vários organoclorados e tipos diferentes de câncer. Em muitos estudos, a exposição a níveis elevados ou por longos períodos aumenta o risco de câncer.

Seveso: a Evidência

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Desde 1976, quando um grave acidente industrial na cidade italiana de Seveso liberou dioxinas para a atmosfera, cerca de 2.000 famílias passaram a ter sua saúde monitorada por cientistas. Esse estudo é muito significativo: a população está sendo bem monitorada e novas técnicas facilitaram a medição de dioxinas no sangue, um fator decisivo para uma determinação precisa do nível de exposição. Há alguns anos, os pesquisadores constataram um aumento de doenças cardiovasculares e provável aumento de determinados tipos de câncer.

Estudos mais recentes, realizados pelo mesma equipe científica, reforçaram a evidência de que as dioxinas são carcinogênicas para seres humanos. O cientista Pier Alberto Bertazzi publicou, com sua equipe, um artigo na revista "Epidemiology", em 1993, descrevendo o aumento de determinados tipos de câncer entre a população de Seveso 1.

Segundo o artigo, pessoas que viviam na segunda área mais contaminada da região (a chamada "zona B") tinham uma probabilidade três vezes maior de contrair câncer de fígado do que a população em geral. No mesmo grupo, uma forma de mieloma ocorreu 5,3 vezes mais frequentemente entre as mulheres, enquanto que entre os homens alguns cânceres de sangue foram 5,7 vezes mais frequentes.

O Câncer de Mama

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O câncer de mama é um dos problemas de saúde mais sérios em todo o mundo. Ele é responsável por mais de 5% dos óbitos em alguns países e está aumentando em escala mundial. Nos Estados Unidos, a mortalidade por câncer de mama tem aumentado a uma proporção de 1% ao ano, desde a II Guerra Mundial 15.

Os fatores de risco identificados para o câncer de mama, como idade, história familiar de câncer de mama, idades de início da puberdade, primeira gravidez e menopausa, obesidade e consumo de álcool, fornecem explicação para apenas cerca de um terço do total de casos.

Investigações realizadas em células de câncer de mama também têm trazido evidência de que os organoclorados podem estar relacionados com a formação do câncer de mama.

Estudos realizados na Califórnia indicaram um risco quatro vezes maior para mulheres com altos níveis de DDE, um metabólito do pesticida DDT 30,31. Contudo, outros estudos não confirmam essa correlação 32,33.

Medidas preventivas deveriam ser adotadas enquanto prosseguem os estudos sobre a relação entre o câncer de mama e os organoclorados.

TABELA4


ORGANOCLORADOS E CÂNCER . Tabela 4

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Vários tipos de câncer estão associados à exposição a organoclorados específicos.


Tipo de Câncer

Organoclorado


Fígado PCBs

Trato digestivo PCBs

Pâncreas DDT

Pulmão Dioxinas, clorometilas, éteres

Sarcoma de tecido moles Dioxinas, clorofenóis

Gânglios linfáticos, especialmente o 2,4-D Herbicidas, fenóxidos

Anemia aplásica (pré-cancerosa) Lindano, pentaclorofenol

Mama DDE

Cânceres múltiplos (todos os tipos) Dioxinas

Fonte: M. Allsopp

 


PROIBIÇÃO TOTAL DE ORGANOCLORADOS

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"A expansão dinâmica da indústria de cloro durante as décadas de 50 e 60 foi um equívoco decisivo no desenvolvimento industrial do Séc. XX, que não teria ocorrido caso soubéssemos, à época, o que hoje sabemos a respeito dos impactos da indústria de cloro sobre o meio ambiente e a saúde humana".

(Conselho Alemão de Especialistas em Temas Ambientais, 1990)

 

Em virtude da sua persistência e circulação contínua no meio ambiente, os organoclorados acabaram se espalhando por todo o planeta. Um claro exemplo disso é o pesticida toxafeno, que já está proibido em 27 países, mas continua sendo utilizado no Caribe, para o cultivo de algodão. Embora não esteja mais em uso na Europa Ocidental, o toxafeno é encontrado em altas concentrações no Mar do Norte e no Atlântico Norte.

Dada a dimensão planetária da contaminação com organoclorados, impõe-se a sua proibição em escala mundial.

Para a obtenção dessa proibição mundial, são necessários os seguintes passos:

* Inclusão do Princípio Precautório nas legislações internacionais e nacionais;
* Acordo Internacional para eliminação progressiva dos organoclorados,
* Taxação progressiva da produção de cloro;
* Programas de realocação de trabalhadores e comunidades atingidas pela
eliminação da indústria de cloro;
* Assistência técnica e financeira para países em desenvolvimento e pequenas empresas, visando substituir os produtos clorados.

Precaução em Primeiro Lugar

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Em vez de permitir a descarga de substâncias químicas até que se comprove dano à saúde pública e ao meio ambiente, o Princípio Precautório proíbe a descarga de substâncias sintéticas, a menos que se comprove que tais substâncias sejam inócuas.

A adoção desse princípio evita o problema de tentar estabelecer níveis de tolerância "aceitáveis" para substâncias cuja toxidade ainda não seja bem conhecida. Ao adotar-se o Princípio Precautório, as indústrias seriam forçadas a reduzir a zero suas emissões tóxicas, em vez de apenas restringí-las a determinados níveis.

Taxas para o Cloro e Fundos de Transição

A produção de cloro e soda deve ser taxada com um imposto por tonelada produzida. Esse imposto permitiria constituir fundos financeiro para auxiliar a transição para uma "sociedade industrial sem cloro".

Acordos Internacionais

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Nos últimos anos, uma série de órgãos internacionais têm se manifestado a respeito da contaminação com organoclorados:

1989, Conferência Circumpolar - Inuit: a Conferência fez um apelo internacional para o controle da contaminação tóxica do Ártico, na sua maior parte originária de regiões distantes, mas atingindo o Ártico através das correntes atmosféricas.

1992, Comissão Mista dos Grandes Lagos: essa comissão, formada por cientistas dos EUA e Canadá, para tratar da contaminação dos lagos fronteiriços aos dois países, recomendou a seus governos a eliminação de todos os usos de cloro como matéria-prima industrial.

1992, Comissão de Paris: Os 13 países da região do Atlântico Nordeste e da União Européia concordaram em eliminar as descargas de substâncias tóxicas, persistentes e bioacumulativas, particulamente os organoclorados.

1993, Conferência do Mar do Norte: essa conferência adotou o acordo acima citado da Comissão de Paris, assim como as metas prévias para a redução em 50% de vários organoclorados e de 70% para as dioxinas.

1993, Convenção de Barcelona: 21 nações do Mar Mediterrâneo concordaram em eliminar a descarga de substâncias tóxicas, persistentes e bioacumulativas, particularmente os organoclorados.

1995, Conferência do Mar do Norte: os países participantes fecham acordo para eliminar a descarga de substâncias perigosas no mar no prazo de uma geração (25 anos).

Esses acordos regionais, no entanto, ainda não seriam suficientes para resolver o problema da contaminação planetária. Devido à circulação global de poluentes persistentes, mesmo quando uma região proíbe determinado organoclorado, a substância proibida seguirá se acumulando ali enquanto continuar a ser produzida e usada em qualquer parte do mundo. A única solução é uma proibição internacional, com força de lei, banindo todos os organoclorados, como um grupo. Esse acordo deve incluir um cronograma para a eliminação progressiva de compostos clorados nos setores mais importantes, para os quais já existam alternativas economicamente viáveis e comprovadas: indústria de celulose e papel, solventes, PVC e pesticidas. Numa segunda etapa, deve ser eliminado o uso de cloro na desinfecção da água e de intermediários do cloro em processos industriais.

O primeiro grande passo para esse acordo foi a Conferência Intergovernamental sobre a Proteção do Meio Marinho contra Fontes de Poluição Terrestres, realizada em novembro de 1995. Na Declaração de Washington, os países presentes comprometeram-se a elaborar e adotar um acordo legal, de caráter global, para eliminar os poluentes orgânicos persistentes dos oceanos do planeta. Isso pode requerer, inclusive, a eliminação da sua própria produção e uso.

O significado político da Conferência de Washington é claro: os poluentes orgânicos persistentes, entre os quais se encontram os organoclorados persistentes, são agora reconhecidos como um problema mundial, assim como o problema da camada de ozônio ou do aquecimento global. Traduzir em ação essas palavras, no entanto, garantindo assim uma "sociedade livre de cloro", continua sendo um dos grandes desafios ambientais do fim desse século.

LISTA


LISTA DE SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS


CFC clorofluorcarbono DDT diclorofenil tricloroetano DBCP dibromocloropropano

DDE diclorodifenil dicloroetano HCB hexaclorobenzeno HCH hexaclorohexano

PVC cloreto de polivinila PCP pentaclorofenol PCB policloreto de bifenila

PRODUTORES

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MAIORES PRODUTORES E USUÁRIOS MUNDIAIS DO CLORO


Akso Nobel Dow Chemical ICI Schweizerhall
Asahi Glass Dow Europe Metaux Speciaux Solvay
Associated Octel Electroquimicia Norsk Hydro Tessenderlo Chemie
Atochem Elf Atochem Occidental Petroleum Tosoh
BASF Enichem Olin Uniteca
Bayer Erkimia PPG Industries Veitsiluoto
Borregaard Industries Finnish Chemicals Produits Chemiques Vulcan Materials
Buna General Eletric Plastics Quimica Del Cinca Wacker - Chemie
Caffaro Hays Chemicals Roche Products
Ciba Geigy Hoechst Rhône-Poulenc Chemie

Notas Bibliográficas

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1 - Bertazzi A., Pesatori A.C., Consonni D., Tironi A., Landi M.T. and Zocchetti C. (1993). Cancer incidence in a population accidentally exposed to 2,3,7,8-Tetrachlorodidenzo-para-dioxin. Epidemiology, 4 (5): 398-406.

2 - Koopmam-Esseboom C., Huisman M., Weisglas-Kuperus N., Boersma E.M., de Ridder M.A.J., Van der Paauw C.G., Tuinstra L.G.M.Th. and Sauer P.J.J. (1994a). Dioxin and PCB levels in relation to living areas in the Netherlands. Chemosphere, 29 (9-11): 2327-2338

3 - Hall R.H. (1992). A new threat to public health: Organochlorines and food. Nutrition and Health, 8: 33-43

4 - Rappe, C., S.Swanson, B. Glas, K. Krangstadt, P. de Souza, e Abe (1989) - Formation of PCDDs and PCFs by the Chlorinations of Water

5 - Lancet (Editorial). (1995). Male reproductive health and environmental oestrogens. The Lancet, 345 (8955): 933-935.

6 - Sharpe R.M. and Skakkebaek N.E. (1993). Are estrogens involved in failling sperm counts and disorders of the male reproductive tract? Lancet, 341: 1392-1395.

7 - Carlsen E., Giwercman A., Keiding N. and Skakkebaek N.E. (1992). Evidence for decreasing quality of semen during the past 50 year. BMJ, 305: 609-613

8 - Giwercman A. and Skakkebaek N.E. (1992). The human testis - an organ at risk? Int. J. Androl., 15: 373-375.

9 - Rupa D.S., Reddy P.P. and Reddi O.S. (1991). Reproductive performance in population exposed to pesticides in cotton fields in India. Environmental Research, 55: 123-128.

10 - Whorton M.D. and Foliart D.E. (1983). Mutagenicity, carcinogenicity and reproductive effects of dichloropropane (DCP). Mutation Research, 123: 13-30.

11 - Wole W.H., Michalek J.E. and Miner J.C. (1992). The Air Force Human Health Study: an epidemiologic investigation of health effects in Air Force personnel following exposure to herbicides. Reproductive outcomes. Brooks Air Force Base, TX: US Air Force School of Aerospace Medicine. (NTIS no. ADA-255262). (Citado in Egeland et al. 1994).

12 - Pines A., Cucos S., Ever-Hadani P. and Ron M. (1987). Some organochlorine insecticide and polychlorinated biphenyl blood residues in infertile males in the general Israeli population of the middle 1980's. Arch. Environ. Contam. Toxicol., 16: 587-597.

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17 - Campbel J.S., Wong J., Wong L., Tryphonas D., Arnold D., Nera E., Cross B. and LaBossiere (1985). Is simian endometriosis an effect immunotoxicity? Presented at the Ontario Association of Pathologists 48th Annual Meeting, London, Ontario. (Citado in Rier et al. 1993).

18 - Kyyronen P., Tasknen H., Lindbohm M. L., Hemminki K. & Heinonen O. (1989). Spontaneous abortions and congenital malformations among women exposed to tetrachloroethylene in dry cleaning. J. Epidemiology & Community Health, 43: 346-351.

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