Por uma Odontologia Responsável Livre de Mercúrio no Brasil
Por uma Odontologia Responsável Livre de Mercúrio no Brasil
Populações vulneráveis estão expostas a doenças e agravos devido à exposição ao mercúrio presente nas obturações dentárias
O desenvolvimento da humanidade ao longo dos séculos foi tornando os processos de produção cada vez mais complexos e distantes da população, que se antes conhecia e entendia sobre os produtos e objetos que produzia, utilizava e consumia, com o passar dos anos perdeu sua familiaridade com as técnicas necessárias ao cultivo, criação e fabricação dos itens mais básicos aos mais complexos do seu uso cotidiano.
Gradativamente, produtos antes oriundos do trabalho artesanal, dos círculos familiares, foram ganhando sofisticação e especificidades industriais em sua fabricação que definitivamente não permitiam mais às pessoas a compreensão da sua complexidade.
Dessa forma, a nossa sociedade tornou-se, ao longo dos anos, um consumidor passivo que não questionava a origem dos produtos que lhe eram oferecidos, aceitando a modernidade como algo benéfico e inevitável e acreditando na segurança que a indústria imprimia em seus ciclos de produção e nos benefícios embutidos nos produtos que adquiria.
Levou muito tempo até que nossa sociedade começasse a questionar os valores implícitos nos bens produzidos, no impacto de sua produção ao meio ambiente e nas implicações que esse bem poderia trazer à sua própria segurança e saúde.
Diversos produtos que são comercializados trazem em sua composição elementos que podem ser muito prejudiciais à saúde humana, sem que isso seja de conhecimento público, fazendo com que, inadvertidamente, as pessoas sejam expostas ao consumo de produto ou à realização de atividades que as intoxica e adoece, sem que ao menos tenham ciência disso.
Confesso que quando me deparei com as primeiras informações sobre os riscos da contaminação pelo mercúrio através das obturações prateadas que carrego em minha boca, foi um grande choque. Em momento algum fui advertida ou alertada sobre a possibilidade do tratamento que buscava para os meus problemas dentários ser tão perigoso para a minha saúde e causasse tanto impacto ao meio ambiente.
Essa constatação remeteu-me a outro momento da minha vida, em que finalmente a indústria do tabaco foi forçada a reconhecer os malefícios causados pelo seu produto, o cigarro, quando não havia mais como negar tantas evidências sobre o câncer provocado pelo seu consumo constante. Só a partir daí começou a luta de parcela da sociedade para que a população fosse alertada sobre esse grave problema decorrente do hábito de fumar e para que fossem criadas políticas públicas que defendessem as pessoas de serem expostas à fumaça tóxica dos fumantes e se tornassem “fumantes passivos”, apresentando enfermidades decorrentes de um vício que nem ao menos era seu.
Foram décadas de luta pela conscientização em torno desse problema mundial, que ainda hoje se reflete na luta para a destinação adequada das bitucas de cigarro, um resíduo que contamina solo e água.
Da mesma forma, os vapores de mercúrio liberados pelas restaurações de amálgama dentário vão gradativamente expondo às pessoas que se utilizaram dessa tecnologia no tratamento de suas cáries, ao processo de intoxicação sem que elas tenham consciência do risco que estão correndo. Apesar de ser fato conhecido há muitas décadas, pouca visibilidade se dá a assunto tão sério, não há divulgação ou campanhas alertando para as tantas implicações que essa técnica tem na saúde da nossa população.
O mercúrio é uma substância reconhecidamente tóxica tanto para o meio ambiente quanto para os seres vivos. É um metal, encontrado na natureza em várias formas, na forma elementar (ou metálica), inorgânica ou orgânica, que é mais perigosa ainda. Sua alta volatilidade faz com que a inalação do seu vapor, incolor e inodoro, seja uma das fontes mais comuns de intoxicação, afetando profissionais que manipulam essa substância que libera vapores tóxicos, tais como, os profissionais da odontologia. Sua manipulação no tratamento dentário também gera uma outra fonte considerável de poluição ambiental, devido à falta de destinação adequada do material descartado, que acaba sendo levado para aterros comuns que não são apropriados para receber material tão tóxico, ou mesmo incinerados, mantendo o ciclo de dispersão do mercúrio na atmosfera.
Quando entra em nosso organismo, seja através da inalação do seu vapor, pelo contato ou mesmo ingestão de sua forma orgânica, o mercúrio possui efeito cumulativo, causando perturbações crônicas e progressivas das nossas funções metabólicas e celulares. A exposição repetida ao mercúrio, mesmo em baixas concentrações, tem um poder bioacumulativo que acaba causando danos às células nervosas, desencadeando enfermidades neurológicas.
O mercúrio e seus derivados são mais solúveis no sangue do que na água e se acumulam nos tecidos, causando lesões graves, principalmente nos rins, fígado, aparelho digestivo e sistema nervoso central e dentre os sintomas mais frequentes da sua contaminação estão fraqueza, fadiga, anorexia, perda de peso, perturbações gastrointestinais, reações psicóticas, como delírio, alucinação e tendência suicida.
Sua periculosidade se faz maior ainda entre as crianças e as mulheres grávidas e lactantes, já que ele atravessa a barreira placentária e se acumula na placenta e nas membranas fetais, ocasionando efeitos neuroteratogênicos, resultando em déficit de inteligência, coordenação motora e danos neurológicos nos fetos dessas gestações. Também foi detectado no leite materno, podendo assim contaminar a criança que está sendo amamentada, provocando essa mesma gama de reações danosas.
Ciente de todas as implicações do uso do amálgama de mercúrio na odontologia, fui motivada a me posicionar em busca de alternativas às obturações que preservem a nossa integridade física e respeitem o meio ambiente. Foi assim que me uni à Aliança Mundial Pela Odontologia Livre de Mercúrio no Brasil, que tem atuado de forma muito intensa e proativa na construção de soluções viáveis e imediatas para solução de problema tão grave.
Se você também se sentiu motivado a conhecer mais sobre esse assunto e sobre o que está sendo feito para a proteção da saúde da nossa população, acesse nosso link de atividades:
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